Ontem à noite, despedi-me de O Anjo Pornográfico como se fora de uma amizade inesperada que partisse depois de nos acostumarmos com sua companhia sempre cheia de ação e de interesse, de uma beleza discreta e indubitável subjacente ao convívio. Nelson Rodrigues é uma personagem ideal de biografia, cheio de defeitos e de talentos, de paixões e de gestos generosos para além do óbvio. Cativante. Nada melhor para uma biografia arrebatadora do que uma pessoa que fez da vida uma batalha resoluta e diuturna contra a unanimidade e a corrente do comum e do normal. Essa rapidinha é o prenúncio do texto que está por vir sobre o livro de Ruy Castro.
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Ontem também comprei, na Livraria Cultura, A desumanização, do português Valter Hugo Mãe. Edição da Cosac Naify, obviamente bela. Já estou grifando alucinadamente, porque o livro é curto, mas a prosa é intensa, repleta de imagens vivíssimas. Um aperitivo:
"A minha mãe disse que era um pequeno vulcão. São as flores das mulheres. São de sangue. São de lume. Magoam. Todos me falavam de passar a ser mulher e sobre o que isso significava de perigo e condenação. Ser mulher, explicavam, era como ter o trabalho todo do que respeita à humanidade."
Na verdade, apesar do Valter viver em Portugal desde criança, ele é Angolano.
ResponderExcluirÉ verdade que o escritor nasceu em Angola, Literaterapia, e eu nem me lembrava disso, no entanto esse nascimento não é suficiente para torná-lo angolano. Repare nessa informação que achei em um texto da Veja: "Nascido em Angola, mas filho de portugueses, deixou o país africano aos dois anos de idade para nunca mais voltar. Não tem sequer dupla nacionalidade." Você deu-me uma ideia para nova postagem com esse comentário. :-)
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