A autopenitência da parte 2 deste diário de leitura fez-me acordar cedo, como combinei comigo mesmo, ler 30 páginas de A desumanização e, um pouco mais tarde, aproveitar tempos livres esparsos para dar cabo das vinte páginas restantes. Com isso, encerrei a leitura de meu primeiro romance de Valter Hugo Mãe, muito influenciado por Marcela Yoneda e por Literaterapia. A impressão que manifestei na parte 1 do diário sobre o livro confirmou-se: o autor tem talento cinco estrelas, com uma capacidade metafórica e imagética sensacional em sua escrita, mas o livro, considerado em sua inteireza, só mereceu três estrelas de minha parte (para entender melhor meus critérios com as estrelas, favor ler o segundo parágrafo desta postagem), porque achei o enredo esvaziado. Recomendo abordar esse livro não com expectativa de romance, mas como se fosse de poesia. Acho que faria uma apreciação melhor dele, se houvesse modulado minha expectativa de acordo com essa recomendação.
Em linhas gerais, tentando evitar spoilers, A desumanização é narrado por uma menina de seus onze ou treze anos que perdeu recentemente a irmã gêmea em circunstâncias não esclarecidas. Sua vida isolada em uma comunidade de casas esparsas no noroeste islandês aparece-nos marcada pelas reflexões sobre a perda da gêmea, com quem mantinha uma estreita relação especular, pelo modo como a reação de seus pais ao evento doloroso repercute em sua mente e pela aproximação a Einar, um tipo meio lunático, pouco merecedor do crédito geral. Como o enredo é extremamente esquemático, se revelo mais aqui, revelo tudo. Resta acrescer que, na estória, a presença da natureza é potente, e a Islândia é equiparada à imagem mesma de Deus.
Bildudalur, povoado de 166 habitantes em cujas redondezas se passa a estória de A desumanização. |
Aeroporto de Bildudalur |
Como me pareceu na parte 2 deste diário, Valter Hugo Mãe tem uma relação estreita com o país de gelo. Ao final do exemplar publicado pela Cosac Naify, há uma nota do autor, em que ele revela também ter crescido com a ideia de um irmão falecido a acompanhar-lhe os pensamentos - ele dedica o livro ao irmão que não conheceu, Casimiro -, arrola várias referências de artistas islandeses, cujos nomes coincidem com os das personagens, e admite que o livro "é uma declaração de amor esquisita, mas é a mais sincera declaração de amor aos fiordes do oeste islandês".
Dei-me ao trabalho de pesquisar alguns artistas islandeses mencionados por Valter Hugo Mãe, mas há muitos outros:
Halldór Laxness: seu nome coincide com o da narradora, Halldora ou Halla. Foi um escritor islandês, laureado com o Nobel de Literatura em 1955. Vejam só: o Brasil tem uma população de mais de 200 milhões de pessoas e nunca ganhou um Nobel; a Islândia, com seus atuais 325 mil habitantes, um dos países menos populosos da face da Terra, ganhou.
Einar Örn Benediktsson: tem o mesmo nome do lunático que mencionei mais acima. É um cantor pop, trompetista e político islandês, componente, com Björk, de uma banda de rock que eu não conhecia, mas que teve projeção internacional, The Sugarcubes.
Steindór Andersen: compartilha o nome com a personagem que faz as vezes de prior na comunidade. Também é músico.
Obrigada por compartilhar suas observações, informações e pesquisa, Raimundo.
ResponderExcluirObrigada, também, por acolher a sugestão de leitura.
Mesmo meio decepcionado conseguiu apreender, distinguir e nos mostrar os pontos que achou interessantes. Não é fácil ir até o final de livros que achamos que se arrastam.
abraços,
Marcela Yoneda
Obrigada por compartilhar suas observações, informações e pesquisa, Raimundo.
ResponderExcluirObrigada, também, por acolher a sugestão de leitura.
Mesmo meio decepcionado conseguiu apreender, distinguir e nos mostrar os pontos que achou interessantes. Não é fácil ir até o final de livros que achamos que se arrastam.
abraços,
Marcela Yoneda
Olha só que interessante, não sabia dessas personalidades Islandesas.
ResponderExcluirMas vamos combinar que esses prêmios literários são meio estranhos. Vc não acha?