Uma vantagem que aplicativos como o Goodreads e o Skoob oferecem a seus usuários leitores, além da interação ao estilo de rede social com outras pessoas, é a possibilidade de organizar e de registrar as leituras, de maneira que o usuário possa refletir sobre elas. Estava vendo há pouco meu balanço de livros lidos em 2015 e pude verificar quantos receberam cinco, quatro, três ou duas estrelas em minha avaliação, por exemplo. Noto que um ou outro mexeu comigo em retrospectiva, passados meses do término da leitura, como não pareceu me mover imediatamente após consumida a última página. Visualizando o conjunto de obras por avaliação dada por mim, ocorreu-me que talvez mudasse o arranjo e melhorasse algumas, ou rebaixasse outras.
Quando li Barba ensopada de sangue, em 2014, embora gostasse demais da companhia do narrador criado por Daniel Galera, a ponto de atravessar o livro a goles generosos e sôfregos, não achei que merecesse cinco estrelas. Lembro que considerei Dois irmãos, lido imediatamente antes, mais merecedor dessa avaliação. Tempos depois, sinto muita vontade de voltar ao Barba, uma saudade daquele ritmo, daquelas personagens, da ambiência, do constante sentimento de estranhamento que perpassa todo o livro, mas não sei que relerei o romance de Hatoum que lhe pareceu superior.
Esse exercício de reflexão proporcionado pelo registro e pela avaliação das leituras de um período mostra como a recepção de uma obra ficcional oscila na gente. A partir dessa constatação, pode-se questionar o que determina a variação de percepção. A gente pode ter mudado, depois de um ano, e o que pareciam critérios importantes, ao avaliar o livro logo após lê-lo, esmaece, perde valor. O próprio livro recém-lido tem potencial de mudar a gente no sentido de seus valores e de sua coerência própria, mas a transformação não se dá logo em seguida à leitura: pode reverberar no leitor ainda algum tempo, inclusive imperceptivelmente.
Dos 35 livros que li em 2015, atribuí cinco estrelas a 13, os seguintes, sem hierarquia entre eles:
Ficção
1. Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro
2. O evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago
3. Memorial de Aires, de Machado de Assis
4. Harry Potter e a pedra filosofal, de J.K. Rowling
5. O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos
6. Bartleby, the scrivener, de Herman Melville
7. O livro das mil e uma noites, v. 1 - Ramo sírio, traduzido por Mamede Mustafa Jarouche
Não-ficção
1. Jung: o mapa da alma, de Murray Stein
2. O Anjo Pornográfico, de Ruy Castro
3. História da morte no Ocidente, de Philippe Ariès
4. A menina sem estrela, de Nelson Rodrigues
5. Teoria das Relações Internacionais, de João Pontes Nogueira e de Nizar Mesari
6. 18 dias, de Matias Spektor
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