13/01/2016

O beijo de Maria José Limeira

Senhoras e senhores, continuo de férias na Paraíba, minha terra natal. Ontem, terça-feira, fui ao Centro e fiz uma farra bibliófila. Limpei parte das estantes de meu antigo quarto, onde restaram muitos livros que não era prioridade levar para Brasília, e troquei, no Sebo Cultural, por obras de autores paraibanos. Depois passei na tradicionalíssima Livraria do Luiz, loja de rua, fora de Shopping Center, felizmente revitalizada, aparentemente salva da falência para a qual demonstrava caminhar, e comprei outros livros de autores conterrâneos.  Como as produções regionais quase não circulam nas livrarias de Brasília, priorizei essas compras.
Adquiri três livros de Maria José Limeira, que era prima legítima de meu avô materno. Aqui na Paraíba, primo legítimo não se contrapõe a bastardo ou ilegítimo, como alguns amigos pensam ao ouvir o termo, de chofre, em Brasília. É o primo-irmão do Rio de Janeiro, o primo básico. Zezé Limeira tem uma obra interessantíssima, de grande qualidade, tanto em prosa quanto em poesia. Ela enfia a faca nas vísceras da gente.
Estava aqui, madrugada à solta, folheando o Crônicas do amanhecer, da citada autora, e deparei com um texto sobre o beijo, "Beijar é bom e eu gosto". É um dos muitos textos em prosa poética de Maria José Limeira. Começa assim: "Eu quero agarrar o instante, quando o beijo nos reuniu, e você fala em adeus".
Vocês, que não me leem, guardam a lembrança de algum beijo-síntese? Algum beijo, por exemplo, represado até o último instante contra uma vontade avassaladora de beijar, até que o beijo aconteceu como o rompimento da barragem em Mariana e deixou um rastro de destruição que, segundo as projeções, deve imprimir danos de décadas por onde se alastrou?
A boa literatura faz isso com a gente.

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