Comecei a ler ontem "Harry Potter e a Câmara Secreta", na versão em e-book, em inglês, que ganhei de presente via uma loja virtual chamada Pottermore Shop. Pelo que entendi, pode-se comprar um livro eletrônico da série e presentear alguém por lá. Quem recebe faz um cadastro na página web da Pottermore e escolhe por qual reader deseja receber o livro. Como o meu é Kindle, recebi pela Amazon, e meu presente foi incorporado normalmente a minha biblioteca na nuvem da Amazon.
Como mencionei antes, resolvi começar a ler a série este ano. Meus motivos e minhas metas estão listados nas postagens que fiz a respeito do primeiro da série, Harry Potter e a Pedra Filosofal. Basta clicar no marcador "Harry Potter", na lateral do blog ou logo abaixo desta postagem, para ver o que comentei antes sobre o bruxo.
Li uns 15% do segundo volume. J. K. Rowling faz uma espécie de recapitulação muito sucinta dos acontecimentos do primeiro livro, na medida ideal: não repete a ponto de enfadar e retoma o suficiente para operar a transição entre as duas obras.
A primeira tensão criada pela autora na trama é dupla: Harry não pode atrapalhar um jantar de negócios meticulosamente planejado pelo tio e, para isso, é instruído a ficar em absoluto silêncio, quieto, em seu quarto, porém aparece um elfo que lança o leitor em outra tensão, porque, segundo a criatura que Harry encontra em seu quarto, o bruxo não deve voltar a Hogwarts, senão uma catástrofe aconteceria. O elfo alega que não pode revelar a Harry do que se trata e começa a chantageá-lo, para que prometa não voltar à escola. Não retornar a Hogwarts significa permanecer no inferno que é a casa dos tios. O pior é que, embora os familiares pareçam odiá-lo, não querem ver-se livres dele e tentam impedi-lo de frequentar a escola.
Minha edição tem essa capa: é um e-book no Kindle. |
Aqui vem spoiler, embora um leitor minimamente esperto saiba que não há possibilidade de o protagonista não voltar a Hogwarts, afinal, este é apenas o começo do segundo livro de uma série de sete. A estória ficaria inviabilizada. Não importa "se", mas como Harry escapa do quarto onde foi aprisionado pelos tios, alimentado por uma portinhola para gatos, com sua querida coruja impossibilitada de esticar as asas e de comer adequadamente.
J.K. Rowling, logo em seguida, esticando cada nó da narrativa como uma Sheherazade do século XX, explora os preparativos para o retorno do ano letivo em Hogwarts, com compra de livros e de material escolar. Para garantir a atenção do leitor sem gerar nova tensão crítica para o protagonista, a autora dedica umas páginas para criar situações em que as relações entre Harry e pessoas queridas são postas em relevo. Com a mesma finalidade de fazer descansar a mente do leitor, antes de lançar-nos em nova tensão dramática, Rowling entretém-nos com detalhes sobre o mundo alternativo dos bruxos, estranho aos trouxas que nós somos. A autora faz isso muito bem. Um exemplo que me ocorre agora é o do relógio da casa dos Weasley, que, em vez de dois ponteiros e os doze números convencionais, tem apenas uma seta e expressões como "hora de preparar o chá", "hora de alimentar as galinhas" e "você está atrasada".
Na última passagem que li antes de escrever esta postagem, Harry e os amigos estão em uma livraria onde ocorre sessão de autógrafos com o autor de quase todos os livros que serão adotados no segundo ano de Hogwarts, Gilderoy Lockhart. O escritor é um bruxo bonitão, que causa frisson entre as mulheres, e o assédio é imenso na porta da loja. Trata-se de passagem metalinguística, em que um best-seller, Harry Potter e a Câmara Secreta, descreve uma cena que certamente já foi vivenciada por J. K. Rowling.
HP e Gilderoy Lockhart, autor de livros de sucesso entre os bruxos, na versão fílmica. |
Aliás, notei que os livros compareceram o tempo todo na trama do primeiro volume da série, e o fenômeno repete-se no segundo. É um serviço que a autora presta à formação de novos leitores: a criança ou o adolescente que lê uma trama sedutora, com muito apelo como é o caso da série Harry Potter, é exposto a várias situações em que o livro é representado de forma muito positiva. A imagem que fica, muito provavelmente, é a de um objeto muito valioso, que merece nossa estima e nosso interesse.
Raimundo!
ResponderExcluirTô achando o máximo seu voo sobre “outras paragens” para entender melhor as pessoas, conhecer a obra e entender o fenômeno editorial. Muito legal. Esse é o verdadeiro leitor. As análises estão ótimas.
Preciso fazer isso com John Green e Paulo Coelho – mas ainda não consegui.
Quero mais!!
Abraços,
Marcela, que alegria ter você de volta nos comentários de meus posts. Confesso que enfrentar Paulo Coelho e John Green vai exigir de mim muito mais coragem e arrojo. Acho que HP tem uma qualidade que atravessa o tempo, senão o interesse pelos livros não continuaria alto e não alcançaria públicos de tantas idades diferentes. John Green parece-me que alcança mais os adolescentes, e não sei que destino as obras dele vão tomar daqui a uns 15 anos. Paulo Coelho só interessa a um tipo de adulto específico, com o qual pouco me identifico. Talvez eu ainda esteja muito longe de tornar-me um "verdadeiro leitor". Abração e volte sempre!
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