Minha agenda de postagens do blog degringolou. Sempre que penso em retomar as publicações, acontece-me algo que transcende as forças de minha vontade publicadora. Decidi comentar despretensiosamente minhas leituras em curso, para tentar retomar o hábito, inclusive, dos diários de leitura.
***
Já faz algum tempo, estou lendo o segundo volume da biografia de Getúlio Vargas escrita por Lira Neto. Comentei aqui no blog o primeiro livro dessa trilogia. Fiquei realmente capturado pelo talento de Lira Neto, que vem sendo comprovado e aprimorado na sucessão de trabalhos biográficos que ele lança. O cara poderia fazer uma pesquisa minuciosa e exaustiva, mas ter um estilo desinteressante. Mesmo que conjugasse pesquisa diligente e prosa atraente, poderia ter problemas para estruturar o oceano de informações reunidas, de modo que não apenas reforçassem teses e interpretações pertinentes sobre a vida e sobre o contexto histórico do biografado, mas também gerassem no leitor aquela tensão dramática e a afeição típica de narrativas ficcionais. Lira Neto faz tudo isso com maestria, e eu espero que continue dando à luz obras do gênero, que me tem interessado crescentemente.
Ainda sobre a biografia de Getúlio Vargas, é instrutivo acompanhar as artimanhas políticas, as articulações tortuosas, a espera tática e os vaivéns de aliados orquestrados pelo Chefe de Estado mais longevo da história republicana brasileira e o segundo de todos os tempos, atrás apenas do monarca Pedro II. Não há como resistir à presença da personalidade de Getúlio como marco e cicatriz de nossa biografia nacional. Os ecos das tensões políticas que ele tentou equilibrar continuam reverberando nas disputas que se travam atualmente em nossa sociedade. Identificar os padrões daquela época, tão bem reconstruídos por Lira Neto, é instrutivo e útil para participar e interpretar a realidade em marcha.
Por ora, achei mais vibrante e envolvente a leitura do primeiro volume, porque remonta a fases menos difundidas da carreira política do biografado. A passagem de uma liderança local e regional para o âmbito nacional pareceu-me particularmente interessante, em uma época de forças centrípetas prevalecendo na organização do Estado brasileiro. A tentativa de identificar, nos anos de formação, padrões e razões que ajudariam a entender o homem de Estado também estão entre os elementos que aumentam minha predileção pelo volume de abertura, o que, no entanto, não significa que o atual seja prescindível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe uma palavrinha