21/02/2016

"Persépolis", de Marjane Satrapi

Terminei recentemente um livro em quadrinhos, o já famosinho "Persépolis", da iraniana Marjane Satrapi. Esse livro eu ganhei em um amigo secreto organizado entre um grupo de pessoas que escrevem e falam sobre livros nas redes sociais. Lá no canal no YouTube, lançado há uns dois meses, publiquei um vídeo sobre a obra, por isso vou deixar aqui para quem quiser assistir e farei uma lista de dez motivos por que acho que "Persépolis" deve ser lido.


Você deve ler "Persépolis" porque...

  1. é uma narrativa muito bem alinhavada, cativante e prazerosa;
  2. é uma história autobiográfica de uma pessoa cujas circunstâncias pessoais, usadas como eixo do que se conta, permitem revelar muitas facetas da realidade regional e da alma humana;
  3. os desenhos são bonitos, simples, no sentido difícil de se atingir, muito expressivos, como deve ser, acho, uma boa HQ;
  4. condensa muita informação sobre uma área importante para a geopolítica mundial;
  5. conjuga aspectos privados e públicos de uma vida vivida em contexto de conflitos nacionais e internacionais;
  6. ajuda a desfazer estereótipos e a combater a desinformação gerada pela hegemonia eurocêntrica da imprensa sobre o Irã e sobre o Oriente Médio;
  7. mostra as contradições de processos políticos complexos e os erros corriqueiros mesmo de quem está do lado tido como certo das disputas;
  8. representa a visão da mesma personagem, na infância, na adolescência e na fase adulta, sobre questões de caráter público, sobre as repercussões desses acontecimentos nas decisões pessoais, sobre o estilo de vida etc, em um amadurecimento progressivo que pode ser acompanhado, em seu desenvolvimento, pelo leitor;
  9. é um livro escrito e desenhado por uma mulher artista iraniana que viveu parte importante da história do seu país, onde as mulheres e a arte não tinham grande margem para florescer, e pode contá-la de fora e de dentro ao mesmo tempo.


01/02/2016

"Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban" - diário de leitura 2

Estou perto de 70% da leitura de Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban. Incorporando o espírito do "Projeto Plataforma 9 3/4", vim fazer ligeiras observações sobre episódios que li de ontem para hoje.

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Quadribol e dementadores

O jogo de quadribol contra Corvinal ("Ravenclaw") foi particularmente emocionante. Depois do que aconteceu na primeira partida do campeonato, disputada contra Lufa-lufa ("Huflepuff"), era grande a expectativa em relação ao desempenho do herói Harry Potter. O professor Lupin, uma figura um tanto ambígua para mim até este ponto da leitura, gastou algum tempo instruindo Harry, apanhador do time de Grifinória, sobre como neutralizar o efeito dos dementadores sobre si. A dúvida acerca do êxito dessa preparação é um dos pontos de tensão, além de toda a expectativa em relação ao resultado da partida, tão importante, no campeonato anual, para o time da casa Grifinória, que, convenhamos, não poderia deixar de ser a queridinha de qualquer pessoa normal que leia a série. O final dessa passagem, além de resolver os nós dramáticos apertados por toda a expectativa mencionada, traz uma surpresa que é, ao mesmo tempo, um pouco frustrante e bastante agradável para quem acumula, com razão, raiva de Draco Malfoy.

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Aula de Adivinhação

O ceticismo de Hermione e de seus amigos em relação às aulas de Adivinhação é particularmente curioso em um universo todo permeado por seres míticos e por magia, elementos que são motivo de ceticismo aqui no mundo real, fora da série "Harry Potter". Assim como há, para nós, áreas da ciência tidas como mais científicas do que outras, como a Física em relação à Sociologia e a muitas áreas da Psicologia, ocorre diferenciação semelhante na diegese* do livro entre Aritmância e Adivinhação.

*Diegese é um termo grego aproveitado pela teoria da narrativa para designar a realidade ou o mundo próprio de uma obra narrativa de ficção, com sua coerência interna, suas regras e todas as características explícitas e implícitas dessa realidade decorrentes da construção engendrada pela autora.

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A relação entre Hermione e os dois meninos

A introdução de Hermione no trio formado por ela, Harry e Ron foi problemática. Inicialmente, os dois repeliam-na, mas a amizade formou-se ainda no primeiro volume da série. Não me lembro de ter havido conflitos significativos no segundo livro, exceto por algumas discordâncias facilmente sanadas, normalmente relacionadas à disciplina e à dedicação de Hermione em choque com a frouxidão de conduta e a molecagem dos dois pirralhos. Em Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban, há uma desinteligência forte entre esses dois pólos, e Hermione aproxima-se e afasta-se dos dois meninos mais de uma vez. Ela toma decisões unilaterais que podem ser consideradas como quebra de confiança e como autoritarismo por alguns leitores, mas também podem ser reputadas justas e muito corretas por leitores como eu, quando sacrifica sua zona de conforto para garantir a segurança e a permanência de Potter e Weasley em Hogwarts. A esse respeito, a lição de moral que o professor Lupin dá em Harry, depois de livrá-lo de uma enrascada com Severus Snape, é devastadora. Até Snape, sem a mesma sensibilidade, deu uma lição de moral em Harry um pouco antes de Lupin, quando comentou que o menino esnobava todo o esforço que as pessoas comuns estavam fazendo para garantir sua integridade e sua segurança, enquanto ele, "o famoso Harry Potter", lançava-se em aventuras irresponsáveis que, de certa forma, poderiam ser interpretadas como um desprezo pela preocupação dos outros com ele.

Para saber mais sobre o "Projeto Plataforma 9 3/4", basta clicar na etiqueta de mesmo nome abaixo desta postagem.

Projeto de leitura Plataforma 9 3/4


Várias pessoas que usam redes sociais para trocar experiências de leitura aderem a projetos. Normalmente definem uma meta geral para o ano e, dentro dela, traçam objetivos mais específicos, que podem consistir em ler determinado número de livros de uma autora, sobre um tema, com recorte de gênero ou de nacionalidade etc. Por exemplo: ler os romances de Clarice Lispector, ler dez livros escritos por mulheres diferentes, ler cinco autores russos, ler sete livros de contos. 
É comum também que as pessoas compartilhem os projetos, adiram a um inventado por outra pessoa, e, a partir daí, comentem, discutam, interajam em torno dele. Pela primeira vez aqui no Palavra de Literatura, participarei de um projeto que converge com minha meta preestabelecida de ler a série Harry Potter. Fiquei sabendo da iniciativa de Bárbara L, do blog Livros de Calla, por meio do blog de Ana, o Leia Ana, Leia. O nome que Bárbara deu foi Projeto de Leitura Plataforma 9 3/4, em referência ao local por onde se embarca no trem que leva os alunos de volta das férias para Hogwarts, a bem famosa escola de magia e de bruxaria. Nos links indicados, estão descritas as regras de como participar.
Comecei a leitura da série em julho do ano passado, então, já entro no projeto com parte do trabalho realizado. Inseri nas postagens que fiz a respeito dos livros já lidos a etiqueta "Projeto Plataforma 9 3/4", que pode ser encontrada na longa lista, em ordem alfabética, à direita de sua tela. Clicando a etiqueta, aparecerão todos os textos com comentários, com impressões e com citações de Harry Potter e a pedra filosofal, de Harry Potter e a câmara secreta e, ainda por terminar, de Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban. Se alguém quiser ler junto, basta avisar, que a gente troca figurinhas, e eu indico aqui o link para o respectivo blog.