27/10/2016

"Azul corvo", de Adriana Lisboa - Diário de leitura

Estou quase terminando de ler Azul corvo, o único dos cinco romances adultos de Adriana Lisboa que ainda não havia lido. Dizer "romance adulto" faz parecer que o livro traz cenas tórridas de sexo explícito, mas não é o caso. É, na verdade, para diferenciar do infanto-juvenil O coração às vezes pára de bater, da editora Rocco, que só hoje descobri.

Não vim esgotar Azul corvo, mas só compartilhar como estou gostando da personagem Fernando, o "pai" da narradora, Vanja. Essas aspas em torno de "pai" serão facilmente entendidas por quem ler o livro. Trata-se de uma relação sofisticadamente bela, sobre a qual pretendo escrever depois aqui. Fernando foi casado com a mãe de Vanja e, depois de separados, topou registrá-la como filha. Morre Suzana, a mãe de Vanja, e a garota de 13 anos resolve mudar-se para os Estados Unidos para, com a ajuda do pai pró-forma, encontrar o biológico.

Fernando remeteu-me ao protagonista de Barba ensopada de sangue e a David, personagem de outro romance escrito por Adriana Lisboa, Hanói. Faz parte de um grupo cujo perfil me é particularmente querido, ao mesmo tempo estoico, com carapaça de dureza e de abnegação em relação às vicissitudes do mundo, porém deixando escapar um afeto semiárido, como a flor do mandacaru, como a prosa de Graciliano e como a poética de João Cabral, todos de rara e enxuta beleza. 

06/10/2016

Resenha-parágrafo - "Um beijo de colombina", de Adriana Lisboa

Avaliação: ***

Só não li da autora até agora Azul Corvo, e Um beijo de colombina foi o de que menos gostei. O argumento do livro é bom, mas a história foi perdendo o interesse do meio para o fim, até que, no último capítulo, houve uma compensação. O narrador do livro vive com uma escritora que, em uma das vezes em que vai nadar no mar, perto da casa de praia que alugam juntos, desaparece, e ele passa a vivenciar um processo de luto por essa perda. Para tentar superar, começa também a escrever. O livro, por isso, tem vários trechos metalinguísticos bacanas, em que o ofício da escrita é objeto de reflexões e de comentários. Os capítulos são organizados em referência a poemas de Manuel Bandeira, cujas vida e obra têm presença preponderante no romance. Se não gostar de "spoiler", pare de ler aqui... Recorde-se que Manuel Bandeira contraiu tuberculose na juventude e teve a morte como certa para pouco tempo à frente, todavia foi um dos escritores mais longevos de sua geração. Esse é um dos pontos em que a biografia do poeta toca a trama do livro.