17/09/2015

A conquista da felicidade - resenha

Terminei de ler, ainda com fastio, A conquista da felicidade, sobre o qual adiantei algumas impressões em postagem anterior, apresentada como diário de leitura. Infelizmente, não foi uma leitura feliz para mim. Apesar das meras 155 páginas, arrastei-me por elas com obstinação, sem prazer. As passagens melhores do livro não valem o tempo investido na travessia.
Além do que mencionei no diário de leitura sobre trechos com marcas preconceituosas inerentes à época em que foi publicado originalmente, 1930, um problema grave do livro parece-me ser o esquematismo, o simplismo e a superficialidade na abordagem dos assuntos afetos à felicidade. O autor previne o leitor de que seu objetivo é compartilhar comentários e conselhos inspirados no senso comum que aumentaram sua felicidade, sempre que se pautou por eles. Por mais que eu concorde com a maioria das prescrições, por mais que eu consiga aplicá-las facilmente, Russell apresenta-as como se sua adoção fosse uma mera questão de força de vontade, e, desta vez por minha experiência, pouca, com as pessoas, sei que não é assim. Se fosse, o mundo estaria repleto de gente radiante de felicidade.
Quando diz que se inspirará no senso comum, Russell, pelo menos, é sincero. Os eixos de cada capítulo da segunda parte, intitulada "Causas da felicidade", podem, quase sempre, ser encontrados em algum dito popular e não o ultrapassam, embora sejam apresentados em linguagem culta e com aparência profundidade. Fazer o bem, sem esperar nada imediatamente de volta. "Gostar de muitas pessoas espontaneamente e sem esforço". Ter interesses os mais amplos possíveis e sentir entusiasmo. Alimentar a autoestima, porém não exagerar. Trabalhar para prevenir o tédio e sentir orgulho do que faz. Eis alguns núcleos de capítulos, expostos de forma banal, sem problematização convincente sobre os obstáculos para alcançar e incorporar essas máximas à vida.
Um capítulo não tão ruim é o que trata da necessidade de equilíbrio entre esforço e resignação. Russell alude à disputa entre esses dois pólos, ao longo da história, como receita para a vida feliz: algumas correntes filosófico-religiosas recomendam passividade e conformação, ao passo que outras prescrevem uma luta indômita pelo que se deseja. É interessante problematizar esses extremos, porque difícil discernir, em várias etapas da vida, quando abandonar um sonho é sinal de sabedoria e de autoconhecimento ou de fraqueza, de pusilanimidade, de preguiça. Esse capítulo contém também frases muito boas, com imagens pouco usuais ao longo do restante do texto:

Exceto em raríssimos casos, a felicidade não é algo que nos venha à boca, como uma fruta madura, por uma simples concorrência de circunstâncias propícias.
(...) para a maioria dos homens e mulheres, a felicidade precisa ser uma conquista e não uma dádiva dos deuses;
As únicas pessoas totalmente indiferentes ao poder são as que mostram completa indiferença em relação ao próximo. 
Acredito que toda pessoa civilizada, homem ou mulher, tem uma imagem de si e sente-se incomodada quando acontece algo que parece empaná-la. O melhor remédio é não ter só uma imagem, mas uma galeria delas, e selecionar a mais adequada para o incidente em questão. Se alguns dos retratos são um pouco ridículos, e daí?, não é nada prudente nos vermos durante todo o tempo como heróis de tragédia clássica.
Lamentavelmente, os excertos citados não são a regra. Grande parte do livro é banal quanto à linguagem, é árido de metáforas e de símiles, elementos que não devem ser exclusivos da prosa ficcional. O texto não inspira, não deleita, não diverte, não faz felizes as horas do leitor, o que torna menos convincentes os fracos argumentos de fundo sobre a felicidade. Terminá-lo foi uma conquista, e a felicidade resultante foi mínima. (2/5 estrelas)

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