11/07/2015

"A menina sem estrela" - Diário de leitura 1

Depois que li a biografia de Nelson Rodrigues escrita por Ruy Castro, fiquei particularmente tentado a ler a obra do biografado. O que mais me interessou não foram as peças, mas as memórias, que Nelson publicou, sob encomenda, quando já era famoso, em formato de crônicas diárias em jornais cariocas. Lembro que, quando meu irmão prestou vestibular, uma das obras indicadas para a prova de Língua Portuguesa era A menina sem estrela, justamente a que mais me interessara, após a leitura de O Anjo Pornográfico. Na época, não me interessei e, procurando o exemplar com capa cor de rosa de meu irmão, não tive êxito. Demorei a encontrar nas lojas da Livraria Cultura aqui de Brasília, as que mais frequento. Quando desisti de procurar, o livro apareceu na prateleira, e eu o comprei.

Até o presente, li uns trinta por cento do livro. Como se trata de crônicas, os capítulos são curtos, com parágrafos numerados, entre 15 e 17 por texto. Ao final, consta a data de publicação no jornal. A edição é da Nova Fronteira, com uma capa bem concebida, que evoca o suporte original do diário jornalístico.

Muitos dos assuntos abordados por Nelson Rodrigues nas crônicas são familiares para quem leu recentemente a biografia escrita por Ruy Castro: o assassinato do irmão Roberto, a morte trágica, por desabamento de um prédio, do outro irmão, a epidemia de gripe espanhola etc. A diferença é que, por excelente que seja a prosa de Ruy Castro, a de Nelson é excelente e meia. A leitura das crônicas equivale a escutar a conversa de um amigo inteligentíssimo, singularíssimo, talentosíssimo para criar imagens e para engendrar frases de efeito. As páginas vão virando imperceptivelmente. Além disso, enquanto a abordagem biográfica de Ruy Castro permanece no âmbito mais objetivo, Nelson derrama-se em subjetividade e permite-se elucubrações metafísicas e reflexões sociológicas que dão um gosto todo especial ao texto.

Voltarei ao livro mais à frente, à medida que atravessá-lo. Em postagem posterior, compartilharei alguns trechos marcantes, particularmente aqueles com as frases vivíssimas de Nelson Rodrigues.

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